A floresta retém cerca de dois terços de todas as espécies vivas, regulando o clima e capturando e armazenando água. As florestas tropicais húmidas, por sua vez, representam cerca de 8 % da área da Terra, mas constituem um habitat para cerca de 90 % das espécies terrestres conhecidas de plantas e animais (Archer et al.,2001).
Segundo Carapeto (1994), estes ecossistemas são extremamente frágeis. Deixados entregues a si próprios podem manter-se indefinidamente, pois o seu equilíbrio e ciclos de regeneração são perfeitos. Porém, a intervenção humana pode causar rapidamente a sua destruição.
O corte de árvores numa floresta tropical coloca o solo sob uma pressão acentuada, dado que as árvores o protegem de chuvas violentas, comuns nos trópicos. E uma vez o solo levado pela água, não é fácil de recriá-lo. Alguns estudos calculam agora que são necessários de 100 a 1000 anos para que uma floresta tropical desenvolvida volte ao seu estado normal, após terem ocorrido alterações pela mão do homem (Seitz, 1995).
Por outro lado, a fragmentação da floresta leva à perda de habitats e, consequentemente, à perda de biodiversidade. A maioria dos países industrializados perderam quase toda a sua floresta original. As florestas tropicais estão, também, a desaparecer rapidamente e a orla do Pacífico está particularmente ameaçada (Archer et al.,2001).
Para além disso, a maior parte dos nutrientes nas florestas tropicais encontra-se na sua vegetação e não no seu solo. Consequentemente, quando a vegetação é retirada, o solo perde rapidamente os poucos nutrientes que possui nas camadas superiores. Além disso, as chuvas constantes arrastam consigo o solo agora solto, tornando praticamente impossível a sua regeneração. Quando áreas destes ecossistemas são desbravadas para a agricultura, esta só é possível durante os primeiros anos, sendo necessário recorrer ao uso intensivo de fertilizantes nos anos seguintes (Carapeto, 1994).
No entanto, se apenas forem derrubadas pequenas porções da floresta, a regeneração é possível. Algumas pessoas praticaram o que é conhecido como agricultura rotativa nas florestas tropicais. Desbravam uma porção de terra e cultivam-na durante um ano ou dois, mudando depois para um novo terreno. Enquanto este procedimento permanecer a uma pequena escala, o dano para a floresta é limitado, mas a prática deste tipo de agricultura a uma grande escala pode conduzir a danos irreversíveis para a floresta (Seitz, 1995).
Nos países em desenvolvimento, a desflorestação tem vindo a ocorrer sobretudo no último meio século, e as causas derivam principalmente da pobreza das populações, misturando-se com pressões populacionais e oportunismo económico e político. Desde 1950, a população que vive perto da floresta triplicou, levando à desflorestação por exigências de energia e terra arável (Archer et al.,2001).
De acordo com Seitz (1995), são principalmente os sem terra e os pobres que hoje em dia, em todo o mundo, atacam as florestas restantes em busca de terra agrícola e combustível. Assim como a pobreza é a causa basilar do problema da fome e uma das causas principais da explosão demográfica, está também no âmago da desflorestação.
O combate à dívida externa, por sua vez, incentivou a desflorestação como via para a prática de agricultura intensiva para exportação, a par do derrube de árvores de grande porte pelo seu valor como matéria- prima para móveis ou instrumentos musicais. Acresce ainda, a procura de polpa de papel, que duplicou desde 1975, e a procura de combustível, na forma de lenha ou carvão vegetal (Archer et al., 2001).
Segundo Casanova (2006), as florestas não são apenas destruídas com o intuito de vender árvores às grandes companhias madeireiras mas também para forçar a existência de áreas abertas para o cultivo. Estas áreas de cultivo não são apenas zonas criadas por fazendeiros ou agricultores locais, uma vez que grandes complexos agrícolas do chamado primeiro mundo se instalam nesses países.
Após a desflorestação de grandes áreas é praticamente impossível de recolonizar com as mesmas espécies, acabando por originar zonas de ervas e de vegetação de baixo porte e, eventualmente, terras áridas. Isto deve-se ao facto de os nutrientes serem o factor limitante nas florestas tropicais (Carapeto, 1994).
As grandes florestas tropicais contêm uma enorme reserva de carbono e têm sido descritas como “pulmões da Terra”, absorvendo dióxido de carbono e libertando oxigénio. Estudos científicos apoiam a hipótese de que a desflorestação pode levar a mudanças significativas no clima (normalmente relacionadas com o decréscimo da precipitação), sendo iminente o perigo de a destruição das florestas contribuir para o aquecimento global (Seitz, 1995).
Desde a cimeira do Rio (1992), perderam-se ou degradaram-se mais de 100 milhões de hectares de floresta e, apesar de ter sido produzida uma Declaração de Princípios Florestais, não se chegou a nenhum acordo para o estabelecimento de uma convenção para a protecção das florestas. Segundo o relatório State of the World’s Forests (1999), a área total de floresta foi estimada em 34,5 milhões de Km2, i.e., cerca de um quarto de cobertura da Terra. Porém, 62 % das florestas do planeta situam-se em apenas sete países : Rússia, Brasil, Canadá, EUA, China, Indonésia e Congo. Nos países em vias de desenvolvimento, destruíram-se cerca de 2 milhões de Km2 de floresta, entre 1980 e 1995, tendo o Brasil, Indonésia e Congo, sido os maiores perdedores (Archer et al.,2001).
De acordo com Casanova (2004), as razões por detrás desta destruição resultam de pressões económicas e demográficas. As dívidas externas de muitos destes países africanos, asiáticos e sul-americanos nunca estiveram tão longe de ser saldadas. Estas dívidas impõem custos às quais estão associadas decisões que não têm em conta aspectos de desenvolvimento a médio e longo prazo, optando normalmente por estratégias de desenvolvimento pontuais e de curto prazo como a exploração intensiva, não ordenada e não planeada dos recursos disponíveis : exemplo da madeira ou de actividades agrícolas intensivas baseadas em técnicas de exploração ocidentais.
A gestão sustentada da floresta passa pela resposta adequada a pontos fundamentais, tais como a pobreza das populações residentes, o reconhecimento dos direitos de posse de terra, os métodos de avaliação, que incluam o impacte ambiental, e os sistemas de mercado justos e ambientalmente correctos (Archer et al., 2001).
Casanova, C. (2006). Introdução à Antropologia Biológica : Princípios Evolutivos, Genética e Primatologia. Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. Universidade Técnica de Lisboa.
Carapeto, C. (1994). Ecologia : Princípios e conceitos. Universidade Aberta.
Seitz, J.L. (1995). Questões Globais : Uma Introdução. Col. Perspectivas Ecológicas, nº 26. Instituto Piaget. Lisboa.
sábado, 11 de julho de 2009
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